Filha, desculpe-me se o que eu disser aqui soar mal de alguma maneira. Realmente, não é fácil dizer, mas me dá um desconto, pelo menos estou sendo sincera.
Sabe filha, você não foi planejada. Não, não foi. Mas mesmo que tivéssemos planejado, provavelmente eu estaria aqui dizendo as mesmas coisas. Porque filha, ter filhos não é só morrer de amor, nascer como mãe, ter o coração batendo fora do corpo e tantos outros clichês – que eu adoro e as pessoas vivem espalhando por aí.
Ter filhos também é abdicação, é desafio, é choro, culpa, arrependimento, é tristeza às vezes.
Filha, veja bem, eu te amo, mas tem dias que eu sinto uma falta danada dos programas que eu fazia antes de você chegar e que agora são apenas lembranças com gostinho de quero mais. Sinto falta das festas do tempo da faculdade, das baladas que só terminavam às 7 da manhã com um pastel de feira. Resumidamente, sinto falta de sair sem pensar em quem ficou em casa.
Eu te amo, mas às vezes tenho tanta saudade daquele tempo em que eu podia acordar às duas da tarde nos finais de semana. Do tempo em que a pizza do dia anterior era suficiente para o meu almoço de domingo.
Filha, não duvide, eu realmente te amo, mas olha, você me tira do sério de vez em quando. Aliás, você me tira do sério com certa frequência. Dizem que você está na crise dos dois anos, que quer chamar a atenção, que quer testar meus limites e minha paciência. Vou te mandar a real: haja paciência viu!
Eu te amo, mas tem dias que a minha vontade é correr, fugir para as montanhas, passar um dia que seja aproveitando a minha própria companhia, sem me preocupar se você está com fome, com sede, se tomou banho ou escovou os dentes. Ou seja, relaxar! Sabia que depois que nos tornamos mães nós esquecemos o significado dessa palavra tão querida?
Eu te amo sim, mas eu nem sempre sei lidar com a pressão e a responsabilidade de fazer de você uma pessoa de quem eu e o mundo irá se orgulhar no futuro. Muito menos a responsabilidade de ser a mãe de quem VOCÊ irá se orgulhar no futuro.
Eu te amo tanto, mas tem noites que eu fico acordada imaginando como estaria a minha vida se eu ainda não fosse mãe. Será que eu ainda moraria em Londrina? Será que estaria casada? Será que teria ido trabalhar com o que eu gosto em outro canto? Será que seria feliz?
Sim filha, eu sou muito feliz em tê-la. No meu coração mora uma felicidade que eu jamais conheceria se não fosse por você. Mas isso não impede que eu fique triste de vez em quando. Afinal, ser mãe não me difere – pelo menos não nisso – dos demais seres humanos, com seus altos e baixos. Mas entenda: minha tristeza esporádica não é culpa sua. E eu sinto muito se, de alguma forma, minhas lágrimas e as chateações do meu dia-a-dia respigam em você às vezes. Eu sinto muito mesmo.
Filha, será que você consegue entender o que estou querendo dizer? Eu espero que você nunca tenha dúvidas sobre o amor que sinto por você. E a maior prova disso é que eu sempre estarei aqui, amando você, apesar de todos os “mas”. Porque nossa vida pode ser cheia de altos e baixos, mas o meu amor por você vai estar sempre acima de tudo isso.
Acredite, mesmo quando eu estiver chamando sua atenção ou chorando por não saber como lidar com você – e provavelmente ainda mais nesses momentos – eu estarei te amando. Se eu puder te pedir algo, seria algo do tipo: esqueça-se de todos os meus “mas”, mas, por favor, não esqueça que eu te amo! E, se der, também não se esqueça que eu sou humana e não uma heroína dos quadrinhos, por isso ainda vou errar e me culpar muitas e muitas vezes. Quem sabe assim eu também não lembre disso de vez em quando.
Beijos,
Mamãe
4 comments
Mariella. me vi no seu texto..
Me sinto exatamente dessa forma, inuuumeras vezes..
Parabens pelo seu dom de escrever, de expressar tantos sentimentos, texto apaixonante, real e maravilhoso!!!!
<3
Foi muito reconfortante ler esse texto e saber que não estou sozinha! Falou exatamente tudo que estou sentindo nesse momento, nessa fase dos 2 anos que a criança está cheia de birras e manias… Mesmo com tantos “mas”, a gente sabe que no fundo não trocaríamos isso por nada, porque não tem amor maior que esse que a gente sente por nossos filhos!
Parabéns pelo texto!!!
Beijos
Oi Gabriela, fico feliz que tenha se identificado com o texto (bom saber que não sou a única que tem essas pirações de vez em quando..rs). Mas é isso mesmo, apesar de todos os pesares, no fim vale à pena sempre!
Beijos
Mari
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