Oito e meia.
Toma o leite, escova os dentes, já pra cama!
Cobre, ajeita o travesseiro, beijinho, boa noite, durma com Deus, meu amor!
“Fica comigo até eu dormir?”
Claro, mesmo que você não pedisse – mas você sempre pede mesmo assim.
Senta, perto da porta, lugar estratégico. Espera 1, 2, 3, 5, 10, 15 minutos.
Silêncio. Interpreto o som da sua respiração, espero mais um pouco, acho que agora foi.
Posso levantar, mas com cuidado.
Joelho estrala, a coluna estrala, o pé tava grudado no chão e faz um barulhinho na hora de dar o primeiro passo rumo à porta, que tá ali do ladinho. (Lembra do lugar estratégico?)
Ela respira fundo, eu penso “acordou!”. Prendo a respiração, viro estátua.
Mais alguns segundos e OK, ela ainda dorme, posso dar os próximos dois passos rumo ao corredor.
UFA! Consegui!
Se tiver sorte, ela vai até de manhã.
Mas se trovoar, se algum carro barulhento resolver passar, aí eu ganho companhia na minha cama na madrugada, fungandinho no meu cangote.
Mas quer saber? Se isso acontecer, tudo bem, é sorte também!