Este texto a seguir é um relato pessoal meu postado lá no meu Instagram, onde eu conto um pouco sobre os primeiros – e difíceis – momentos quando eu e o pai da minha filha decidimos nos separar. Compartilhei a minha história porque sei que divórcio com filhos é sempre um tema delicado e que nos traz muitos sentimentos, principalmente a culpa, especialmente pra nós, mães. Mas saber que outras mulheres passaram por isso – e sobreviveram – pode ser um “alívio” e um sopro de esperança de que essa fase mais difícil vai passar. Essa é a minha intenção com o texto a seguir 🙂
“Eu ainda me lembro da sensação aterrorizante e devastadora que eu senti no dia em que acordei e percebi que o pai da minha filha havia ido embora de casa. Não, ele não sumiu simplesmente assim, do nada. Nós havíamos tido uma conversa definitiva, difícil porém necessária na noite anterior, onde chegamos à conclusão de que aquele casamento de 7 anos já não estava funcionando mais e que, àquela altura, não víamos mais esperança ou chance de consertar as coisas.
Apesar da conversa ter sido inesperada, essa decisão não foi, então porque doía tanto o peito? Uma relação nunca termina da noite pro dia, todos nós sabemos, mas naquela segunda-feira de outubro de 2017 foi como se meus sonhos de família feliz e todos os projetos de futuro que consciente ou inconscientemente eu havia feito pra nós tivessem morrido, de maneira fulminante.
Ele foi embora. É real. Não existe mais casamento, não somos mais a família que sai junta pra comemorar o dia das crianças no clube que a minha filha adora frequentar, como havíamos feito no dia anterior. E de repente tudo era dor pelo que deixaríamos de viver e medo pelo que viria pela frente.
Aquela constatação ainda meio nebulosa de que de fato havia acabado chegou revirando tudo dentro de mim, até mesmo lugares que eu desconhecia ou simplesmente não queria visitar. E não demorou muito pra culpa aparecer.
– Como eu, a mãe que deveria pensar no bem-estar da filha acima de qualquer coisa, havia simplesmente destruído a família que ela tinha? Por que não me esforcei mais, por que não tentei outra vez, por ela? Será que eu havia me precipitado e metido os pés pelas mãos? Com certeza eu me precipitei. Acabei com a ideia de família que a minha filha tinha, enquanto ela dormia tranquilamente no quarto, sem nem sonhar com o que estava acontecendo na sala e na sua vida. Era só o que eu conseguia pensar naquele momento. Era tudo o que eu conseguia pensar naquele momento.
Uma sensação estranha e muito desconfortável me invadiu. Eu não soube nominar de início, mas hoje eu sei: era a sensação do fracasso. Fracassei totalmente como esposa, fracassamos como família e provavelmente a culpa era toda minha, eu sentia.
Tudo tinha ruído, se desfeito, morrido ali, naquele momento. E a morte dos planos, das idealizações que eu havia criado desde pequena sobre o que seria uma vida e família perfeitas, dos projetos de um futuro incrível juntos, era doída demais. Principalmente nesse primeiro momento em que a sensação de ter fracassado ainda vem acompanhada pela dúvida se fizemos a coisa certa e pela culpa de não termos tentado mais um pouco.
Eu não sabia na época, mas ali começava um processo intenso de luto. Luto pelo fim de um casamento mas principalmente pela morte das minhas expectativas e fantasias irreais do que significava uma família feliz.
Se você tá vivendo esse processo agora e eu pudesse te dar só um conselho seria: viva! Encare todas as dores e monstros que ele vai trazer à tona, chore se tiver vontade de chorar, grite se sentir necessidade, não negue nada do que você sentir. É doloroso, é assustador, é difícil. Leva um tempo, pode ser que demore mas, ainda que você não acredite agora, passa! A vida e a história continuam, a minha continuou e hoje eu tô aqui pra contar que eu nem você fracassamos!”
Para mais textos sobre divórcio com filhos e relatos sobre a vida de mãe solo, acesse o meu perfil no Instagram, lá eu sempre compartilho coisas do nosso dia a dia e proponho conversas sobre esses assuntos.