Miga, sua loca, que ideia foi essa de ter filho? Agora tá aí, dias sem dormir direito, olheiras enormes, barriga flácida e peito ardendo. Teu bebê não te deixa dormir, não te deixa comer, não te deixa tomar um banho decente, nem mesmo trocar o pijama, escovar os dentes, pentear os cabelos que você nem lembra mais como eram antes de adotar o coque ou o rabo de cabelo desgranhado que te acompanha há dias.
Miga, sua loca, me fala: que ideia doida foi essa? Ninguém te falou que filho toma tempo, toma dinheiro, toma sossego e toma sonhos também? Agora me diz: quando é que você vai conseguir fazer aquela pós graduação que queria, aquela viagem pro exterior que tava planejando, aquele workshop, aquela balada de aniversário, aquela micareta, aquele show da Beyoncé que a gente tava louca pra ver? Como será sua vida daqui pra frente? Tá arrependida? Aposto que sim.
Miga, sério, você é muito loca. Quer prova maior da sua loucura que esse sorriso besta aí na sua cara, que você nem percebe, mas que dá toda vez que pronuncia o nome desse bebê que te tirou tanta coisa?! Tudo bem que ele é mesmo muito fofo, cuti cuti e tals, mas isso não torna sua vida mais fácil – nem o cocô dele menos fedorento.
É, miga, eu posso ver nos seus olhos, por trás dessas olheiras enormes, um brilho que, tipo, não dá pra entender! Como alguém em sã consciência pode ser feliz em meio a esse caos que se instalou na sua casa e na sua vida desde que esse bebê chegou? Como alguém normal diria, mesmo passando tanto perrengue, que não se arrepende de ter escolhido ser mãe? E pior, ainda indicaria a mesma experiência pra outras pessoas que gosta? Vamos combinar que tem que ser muito loka mesmo.
Miga, sei lá, isso tudo é muito confuso. Olhando de fora, às vezes eu vejo você chorando de cansaço, de dor nas costas, de coisas que nem você sabe explicar o porquê e no momento seguinte, num passe de mágicas, te vejo suspirar de amor, rir sem motivo, chorar de alegria, quase em transe. É como se de dentro daquelas roupinhas minúsculas e delicadas que você comprou assim que descobriu o sexo do bebê exalasse um elixir dos deuses com alto poder de cura e restauração de todas as mazelas, do corpo e da alma. Sério, me explica.
Miga, que loucura tudo isso! Será que ser mãe é mesmo tudo o que você, e outras locas, dizem por aí? Ainda to tentando entender exatamente o que você quer dizer quando eu vou te visitar e você fala, com aquele sutiã (uó) de amamentação aparecendo e a roupa cheirando a vômito, que nunca se sentiu tão plena na vida! Tá bom, se eu olhar bem pra você, além da aparência cansada, posso até dizer que talvez você esteja certa. Talvez.
Miga, será que to ficando loca? Porque, tipo assim, tá me dando uma vontadezinha de ter um filho também e sentir na pele esse amor incondicional que eu te vejo sentindo. Ok, foi uma ideia meio maluca que me passou pela cabeça, acho que já tá passando.
…
Mas miga, vem cá, me tira uma dúvida: teste de farmácia é mesmo confiável? Porque se for, miga, sua loca, aí vou eu descobrir como é esse tal de ‘morrer de amor e continuar vivendo’, provar da intuição de mãe, ter o coração batendo fora do corpo e todos esses clichês que eu cansei de ouvir e agora quero viver! Deseje-me sorte miga, olhando pra você agora eu imagino que vou precisar! Mas já sei que valerá à pena!
(Continua em algum post futuro…)
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Este é um texto fictício, qualquer semelhança com a vida real é mera casualidade do destino 🙂
Beijo,
Mari