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Cama compartilhada: nosso caso de amor e quase-ódio

A cama compartilhada é uma cusparada bem grande que subiu, subiu, subiu e despencou  sobre a minha testa de mãe. Antes mesmo de saber que ela tinha esse nome – o que de fato você só sabe depois que engravida – eu já dizia pra quem me perguntasse: “ filho dormindo comigo na cama? Nem pensar!”

Pois então…O dia que contrariou toda essa minha convicção tardou, mas não falhou.

cama_compartilhada

Desde que nasceu até ter mais de um ano, a Clara dormiu no seu berço, mas no nosso quarto. Por isso não senti a necessidade de colocá-la pra dormir conosco na mesma cama. Isso aconteceu pouquíssimas vezes e nunca por uma noite inteira eu acho, porque eu sempre tive medo de que nós rolássemos por cima dela ou acontecesse algum incidente. Paranoias de mãe de primeira viagem, sabe?

Mas enfim, enquanto o berço ficava no nosso quarto, nossa rotina de sono era bem tranquila, inclusive nas primeiras semanas. A qualquer resmungadinho dela ou mesmo uma respiração mais profunda, eu saltava da cama e em dois segundos já estava ao seu lado. Isso facilitou muito a amamentação nas madrugadas –  que sempre foi em livre demanda – e todos dormiam bem, em suas respectivas camas.

Daí que quando a Clara estava com um ano e meio, mais ou menos, nós fizemos um quartinho só pra ela e transferimos seu berço pra lá. A adaptação foi tranquila, como já estava acostumada a dormir no seu berço, ela pouco estranhou a mudança de quarto. E por ela já estar maiorzinha, eu também não tinha mais aquela neura dela precisar do meu auxílio e eu não acordar. Vez ou outra, quando ela pedia ou eu sentia vontade de ter ela mais juntinho de mim, ela dormia comigo, mas nunca transformamos isso numa rotina.

Mais alguns meses se passaram e nós transformamos seu berço em cama. Chamamos a pequena pra participar da “reforma” do berço, ela curtiu a história toda e dormiu feliz e sem demora na sua caminha nova logo no primeiro dia. Tirando alguns episódios dela chorar um pouco ou demorar mais pra pegar no sono (enquanto eu ficava sentada na cama junto com ela), essa adaptação também não foi nada traumática.

Só que um belo dia a Clara ficou doente e eu preferi levá-la pra dormir comigo na minha cama, pois lá poderia acompanhar mais de perto se a febre voltava ou se ela estava incomodada com algo. Foram dois ou três dias assim e já bastou pra ela nunca mais querer voltar pra cama dela. E eu, que pra ser sincera adoro acordar do seu ladinho de manhã com ela me falando “bom dia”, fui deixando.

E aí que começa meu caso de amor e quase-ódio com essa tal de cama compartilhada. Porque se por um lado é uma delííícia ter a companhia da minha tchuca dormindo e acordando comigo (já que o marido passa a semana trabalhando fora), por outro é como se eu dividisse a cama com um polvo dançando lambada.

Clara se mexe muito e o tempo todo. Como muitas crianças, ela tem o dom de, com um corpinho franzino, ocupar toda a extensão da cama. Tenho a impressão de que se o colchão tivesse o triplo do tamanho (meu sonho), ela trataria de dominar todo o território, deixando pouquíssimo espaço pra outras pessoas. E essa outra pessoa, no caso, sou eu. Então fica difícil descansar completamente com um pé no seu nariz, uma mão no seu pescoço ou, na pior das circunstâncias, uma criança toda deitada sobre você. Quem já dividiu a cama com um polvo dançarino de lambada vai saber bem do que eu estou falando! E essa é a parte que me leva ao quase-ódio.

Salvo algumas raras exceções, eu acabo acordando várias vezes durante a noite pra arrumar a criança na cama e impedir que ela me esmague ou que caia pra fora (já teve vez dela ir rolando e cair lá nos pés da cama, só pra vocês terem uma ideia do nível de acrobacias sonâmbulísticas da pessoinha). Sem falar que se 1+1 já é difícil, 1+2 então é o caos. Quando o Junior está aqui e ela cisma em dormir com a gente, é certo que só uma pessoa ali vai dormir direito. E não sou eu. Nem o pai.

E é por isso que a missão quase impossível do momento é reacostumar a Clarinha a dormir na sua cama. Acredito que essa será a melhor rotina pra nós nesse momento. E como vai o desafio? Temos tido noites de sucesso e noites de estresse total. Tem dias que eu a coloco na cama e em cinco minutos ela está dormindo. Tem também às vezes em que ela dorme no sofá e já vai pra cama assim, fácil fácil, mole mole. Mas também tem as noites em que eu estou exausta e ela reluta por mais de uma hora em dormir, me deixando bastante irritada e cansada. As vezes a demora é tanta que eu acabo desistindo e levando-a pro meu quarto. Aí ela deita e dorme em dois minutos – e eu também.

Essa tem sido nossa rotina – ou falta dela – nas últimas semanas. Meu sonho é que ela entendesse que há dias em que ela pode dormir comigo e há dias que não, mas já vi que isso é demais pra pouca maturidade de uma menininha que ainda vai completar três anos. Na verdade, até acho que ela se adaptou muito bem às mudanças que nós fizemos até agora.

Por isso que não estou fazendo esse processo da volta dela pra sua cama de forma tão drástica. Alguns dias ela dorme comigo, outros dias eu me comprometo a ficar ao seu lado no seu quarto até ela dormir. Acho que ela tem entendido que o fato de querer que ela durma no seu próprio quarto nada tem a ver com o amor e cuidado que tenho por ela. Nessas horas, é preciso fazer as coisas com paciência e jeitinho.

No fim, entre o amor e o quase-ódio pela cama compartilhada, eu me dou o benefício da dúvida e fico com o bom senso sempre. Se hoje alguém me pergunta se eu sou a favor dela, digo que você nunca vai saber se isso funciona na sua casa se não experimentar, mas que você só deve experimentar se sentir vontade ou necessidade disso. Não acho que cama compartilhada gere crianças mimadas ou mais dependentes dos pais, assim como também não acredito que uma criança que é incentivada a dormir na sua própria cama se sinta menos amada pelos pais.

Acho que como tudo na vida, essa é uma questão que deve ser bem dosada e posta em prática respeitando a rotina e as necessidades de cada família. Há muitas coisas pra se levar em conta antes de tomar qualquer decisão sobre praticar ou não a cama compartilhada e só os pais saberão sobre seus filhos.

O que eu aprendi é a nunca dizer nunca. Pode ser que amanhã eu resolva que a Clara dormirá comigo quando quiser, até o dia que ela não quiser mais – esse dia inevitavelmente vai chegar e é certo que eu vou sentir saudade de quando ela pedia com olhinhos carentes pra dormir comigo. Pode ser que com um próximo filho eu escolha tê-lo dormindo comigo já desde os primeiros meses. Pode ser tantas coisas, que só vivendo pra saber, né? Por enquanto, o que eu estou buscando é uma maneira de todos nós dormirmos melhor, mas sem estabelecer que é proibido dormir todo mundo junto.

Quando sentir saudade de dormir com a minha cria grudadinha em mim, vou levá-la pra minha cama sem culpa. Do mesmo jeito, quando achar que aquele não é um bom dia pra compartilhar a cama, ficarei lá no seu quarto, sentada ao seu lado, contando uma história ou cantando baixinho um música até ela dormir, mesmo que isso demore muitos e intermináveis minutos. Ter filhos tem dessas coisas e crescer leva mesmo tempo…

cama_compartilhadaO tempo passa, mas aqui ao meu lado sempre haverá espaço pra ela

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4 comments

Camila Vaz 3 de setembro de 2014 - 8:51 pm

Olá! Primeiro que adorei o conteúdo do seu blog. Segundo que a cama compartilhada é uma via de mão dupla. A gente ama dormir com eles e odeia os chutes, socos e pontapés que levamos. A gente reclama, resmunga, quase chora e no outro dia a gente coloca eles na cama de novo. No meu caso são 2!!!! hahahaha Imagina a loucura…. Mas eu penso: ah! isso vai passar e eu vou sentir saudade. E a gente vai levando! bjs Camila Vaz

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Mariella 3 de setembro de 2014 - 9:04 pm

Oi Camila, que bom saber que gostou do blog! Acho que é bem isso que você falou, pode ser incômodo, mas a verdade é que eu adoro dividir a cama com a minha baixinha. Mesmo não querendo que isso se torne uma rotina ou uma obrigação, acho que não faz mal fazer a vontade dela de vez em quando também 🙂
Beijo,
Mari

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Liene Oliveira 3 de setembro de 2014 - 9:24 pm

Oi Mari compartilhei a cama de manhã até os 10 anos e meu irmão caçula até os 15, não somos mimados e por isso compartilho a cama com meus a hora que eles querem. Se resolvem dormir com a mamãe eles dormem e meu marido não reclama. Ela acha que pelo fato que eu trabalho o dia todo mereço esses momentos com eles.
Bjs e adorei o blog.

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Mariella 26 de setembro de 2014 - 10:45 am

Liene, também não acho que cama compartilhada tenha a ver com crianças mimadas ou inseguras. Tô tentando achar um meio termo por aqui que seja bom pra todos e acho que estamos conseguindo 🙂
Fico feliz que tenha gostado do blog. Obrigada pela visita e pelo comentário aqui com sua experiência. Beijos

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