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Aquela mãe

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Lembro bem da primeira vez que me deparei com o descontrole daquela mãe. Como um copo que transborda com um pingo d’água, ela deixou o nervosismo ganhar da paciência que se espera de toda mãe e explodiu com aquela criança, diante da sua desobediência. Ela a pegou pelo braço, com certa força, e a chacoalhou com truculência, enquanto falava em um tom sobressaltado que ela não deveria continuar fazendo aquilo.

Eu a conhecia há muito tempo, éramos amigas muito íntimas. Como tantas de nós, ela era uma mãe de primeira viagem e sem experiência no assunto. Como tantas de nós, ela não tinha aprendido em um curso de gestantes como se comportar diante das dores da maternidade.

Mas devo confessar: o fato de saber que ela era como tantas de nós não me impediu de julgá-la naquele momento. Ela perdeu o controle, foi rude com alguém que, mesmo sendo desobediente, pouco entendia o que realmente estava acontecendo. No fim, era difícil dizer quem estava mais arrependida do que havia feito: a mãe ou a criança. Não, na verdade era fácil de ver, estava lá escancarado nos olhos daquela mãe.

E junto com o arrependimento, dava pra ver também sua frustração, seu cansaço, as dezenas de expectativas não correspondidas e um medo tremendo. Um não, vários. Medo de ser julgada pelos outros, medo de desapontar as pessoas e a si mesmo, medo daquela sua criança crescer traumatizada ou, de alguma forma, gostar menos dela caso cenas como aquela se repetissem.

Dava pra ver tudo isso ali, escondido dentro daquela mãe, embora ela fizesse um grande esforço pra não demonstrar nada. Tudo isso durou apenas alguns minutos, mas eu acredito que aquilo ecoou na sua cabeça e no seu coração por muito mais tempo.

 

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O problema é que esse não foi o único pecado daquela mãe. Eu a vi errar outras diversas vezes e, por mais que seja difícil dizer isso de uma pessoa que eu conheço tão bem, ela esteve errada em muitas situações. Como quando não dava atenção suficiente pro seu filho ou dizia pra ele o quão chato ele estava. Como quando dava qualquer tranqueira pra ele comer pra se livrar logo da chateação ou, pior ainda, ameaçava largá-lo chorando sozinho na rua durante um ataque de birra.

Algumas vezes eu podia até ouvir seus pensamentos: “será que ter um filho agora foi um erro?”, “queria ter minha vida de volta, nem que fosse por um dia apenas”,  seguido por um “que tipo de mãe sou eu por pensar essas coisas?”.  Quase sempre aquela mãe errava por causa do estresse ou do cansaço, mas creio que sempre, sempre, ela errava com a intenção de acertar.

É, minha amiga, criar e educar um filho estão longe de serem tarefas fáceis. Nós descobrimos isso mais cedo ou mais tarde, com mais ou com menos pesar na consciência.

E é por isso que entre condenar ou absolver aquela mãe tão cheia de falhas, eu preferi tentar aprender com os seus erros. Afinal, aquela mãe era eu e, assim como a autocrítica, um pouco autocompaixão também não faz mal pra ninguém!

Antes de julgar uma pessoa, certifique-se de que os erros que você enxerga claramente nela também não residem, escondidos, dentro de você

Beijos de compaixão pras mães que erram mas perdoam a si mesmo 😉

Mari

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1 comment

Raquel 22 de agosto de 2014 - 6:29 pm

Essa mãe sou eu tb… Agora, mãe de duas, mas sem saber lidar com a carência da primeira.

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