Eu adiei o quanto pude, porque tinha medo e porque nunca tinha havido necessidade, mas depois de 2 anos e 9 meses chegou a hora: a primeira viagem da Clara sem mim. Na verdade era mais que isso, era a primeira vez que DORMIRIA longe dela, que ela ficaria mais que algumas horas longe das minhas vistas. Dá pra imaginar o drama, né?
Quer dizer, essa seria a segunda tentativa. Na primeira, há um mês , Clara foi com os avós paternos pra casa deles (que fica a 120km daqui) numa sexta-feira a tarde, depois da escola, e voltou no meio da madrugada com o pai depois de passar mal e vomitar até não querer mais. (Eu, que havia aproveitado a chance pra sair um pouco de casa, fui da baladinha direto pro hospital encontrar com ela #FAIL). O diagnóstico na época foi uma virose, mas por algum tempo eu fiquei me perguntando se não teria sido uma reação emocional por causa da nossa primeira separação. Então essa nova tentativa seria a prova dos nove para essa minha dúvida, o que, confesso, me deixou mais apreensiva e nervosa dessa vez.
Conforme o dia da viagem foi se aproximando, foi aumentando o aperto no meu coração. Quase cheguei a mudar de ideia. Mas não tinha como fugir, uma hora isso iria acontecer e eu não queria privar a Clarinha de passar uns dias com o pai e com os avós na casa deles, coisa que ela estava querendo há tempos. Também queria saber como eu ficaria esses dias longe dela e se conseguiria curtir o sossego tão sonhado algumas vezes. Então, aproveitamos que na quarta passada era o último dia de aula dela e que eles estavam por aqui e combinamos deles já a levarem pra lá, onde ela ficou até o fim de semana.
Arrumei sua mala e a mochila, que ela mesma fez questão de carregar até o carro. Me deu um abraço e um beijo e foi toda feliz, acenando até que o portão da garagem se fechasse completamente.
Meu medo naquela momento era pelo trajeto em si – neuras de mãe – principalmente quando começou a chover pouco depois que eles saíram. Mas umas duas horas depois ela mesmo me tranquilizou pelo telefone, dizendo que havia chegado bem. A partir daí seria eu e o tão sonhado sossego em casa por quatro dias. Isso se a saudade dela e a sensação estranha de “casa vazia e silenciosa” me deixassem aproveitar.
Calhou que era véspera de feriado e umas amigas haviam combinado de pegar uma baladinha. Então era 10 da noite e eu resolvi acompanhá-las. Tinha que aproveitar a chance de fazer algo que eu gosto tanto e sinto falta nessa rotina de cuidar da Clara 7 dias por semana: sair pra dançar!
Foi uma noite divertida e animada como não tinha há anos. Tudo bem que eu me senti um pouco a “tia da balada”, mas foi uma delícia poder curtir a noite na companhia das amigas sem me preocupar com que horas chegaria em casa – ou que horas seria acordada no dia seguinte. Só não foi legal a parte da ressaca no dia seguinte, mas essa parte a gente abafa, né?
Clara me ligou novamente no dia seguinte, mas pouco falou antes de sair correndo pra fazer alguma coisa mais interessante por lá. Mas pelo menos serviu pra eu ter certeza que ela estava bem e feliz por lá e pra deixar meu coração mais tranquilo.
E essa tranquilidade me deu a oportunidade de fazer as coisas que eu raramente consigo quando ela está aqui. Do tipo ler um livro, almoçar tranquilamente, assistir filmes e séries por horas e horas na Netflix (inclusive descobri uma ótima, chamada Orange is the new Black, que não poderia assistir na companhia de uma criança). E o melhor de tudo: pude dormir e praticar o ócio (nesse caso pouco criativo) sem ser interrompida. Na sexta, me lembrei da sensação de acordar às 11h40! Me digam: quando que uma criança em casa a gente consegue dormir até essa hora? Nunca, né?!
Mas nem tudo foi uma maravilha, eu confesso. Houve (vários) momentos em que me lembrava da minha baixinha e ficava morreeeendo de saudade dela. Fui ver fotos de quando ela era bebê e todo aquele saudosismo típico de mãe baixou por aqui. No fim, acho que foi bom pra eu perceber que tenho mesmo que aproveitar muito bem os momentos com ela, porque logo logo toda a dependência que ela tem de mim vai deixar de existir.
Aliás, essa viagem também serviu pra todos perceberem que ela é ainda mais independente do que imaginávamos. Ela pouco perguntou de mim nos três dias que ficou lá, não chorou, não deu trabalho nenhum nesse sentido (fico feliz ou fico triste?). Dormiu sozinha na cama que a vovó montou no quarto dela, comeu, brincou e se divertiu sem a mamãe aqui por perto. Brincadeiras à parte, eu fico sim feliz que ela seja essa criança segura e independente. Aliás, ela sempre deu sinais disso, desde quando ficava com a babá pra eu ir trabalhar e depois quando se adaptou super bem na escola também.
No sábado ela estava de volta. Assim que o pai abriu a porta, ela correu gritando meu nome, me deu um abraço e disse “voltei!”. Minutos depois, a peguei com uma carinha triste e, depois de muito eu perguntar, ela disse que queria ficar mais na casa da vovó. #asmãechora A mim só restou dizer que eu tava muito feliz que ela tinha voltado porque estava com muita saudade. Depois de me ouvir dizer isso algumas vezes, ela disse que também estava feliz. Ufa, minha filha ainda me ama! haha Fomos curtir a festa junina do clube e o meu mundo voltou a girar em torno dela, meu solzinho.
E assim terminou a pequena-grande-aventura da primeira viagem da Clara sem mim. Entre saudades, alegrias, nostalgias e aprendizados, salvaram-se todos! E agora to aqui me preparando pra segunda experiência, que deve ser já na próxima semana. Só não garanto que eu vá conseguir ficar uma semana longe dela sem me despencar pra lá no meio das suas férias. Veremos!
Beijos,
Mari
PS: Se você tem conta no Instagram, pode conferir mais sobre como foram esses meus dias sem a Clara, acessando o meu perfil @Caderninhodamamae ou a hashtag #diariodemaesemfilha 😉